26
set
10

Bela da tarde | post extra com participação especial de Julio Trindade

Um grande amigo descobriu Buñuel na tarde chuvosa de um fim de semana. E o encantamento dele com o cinema do diretor levou ao convite para um post especial no @oclubedofilme.

Entre “Belle de Jour” e “Le charme discret de la bourgeoisie”, ele escolheu “Bela da Tarde” para contar um pouco de suas impressões.

“Belle de Jour, considerado a obra-prima de Luis Buñuel, é daqueles filmes que há uma diferença grande de percepção de acordo com o gênero. Não o gênero de filmes – drama, suspense, ação -, é mais simples do que isso: os gêneros masculino e feminino.

A história, a princípio, parece um tanto surreal (se bem que Nelson Rodrigues a assinaria): uma mulher linda – e ponha linda nisso, por favor, para Catharine Deneuve –, com casamento estável, elegante e burguesa (característica que não pode faltar nos filmes franceses de Buñuel) freqüentando, ou melhor, trabalhando num prostíbulo à tarde (jour). E, como ela mesmo admite, sem saber bem o porquê.

Por isso, volto a bater na tecla de que homens e mulheres devem ter uma impressão distinta daquelas tardes. Como só posso falar a partir do ponto de vista masculino, digo que é um filme pra lá de erótico e sensual, sem ser vulgar, além de um roteiro muito bem amarrado, com elementos de suspense e ação. Mas desconfio que para as mulheres a sensação seja um pouco diferente.

De forma alguma quero insinuar que elas (ou vocês) vão bater nos prostíbulos do Centro do Rio de Janeiro às tardes por curiosidade, assim como também nós não vamos paquerar as meninas de doze anos, inspirados em “Lolita”, de Nabokov, adaptado com maestria para as telonas por Kubrick.

Mas assim como a namorada de um amigo meu lhe confessou que sentiu ciúme de Lolita, ao assistir ao filme com ele, “Belle De Jour” inspira reações diferentes de acordo com o lado da cama de onde se dorme. Pena que vi sozinho…”

Blog do Julio: http://invernodejulho.blogspot.com/

Por: Nathalia Jordão

22
ago
10

Breaking news! Belle Toujours no cinema (RJ)

Enquanto não conseguimos voltar à atividade normal do blog, viemos contar uma novidade para quem, como nós, estava louco para assistir “Belle Toujours”, a continuação de “Belle de Jour”. O filme está passando no cinema, no Rio de Janeiro, nas salas Cine Santa Teresa e Unibanco Arteplex.

O filme é dirigido por Manoel de Oliveira, em homenagem à Buñuel.

Informações do Guia da Semana no link abaixo:

http://pop.guiadasemana.com.br/Rio_de_Janeiro/Cinema/Filme/Belle_Toujours_Sempre_Bela.aspx?id=1459

07
jun
10

8 e 1/2 | Ou nine?

Depois de relutar muito para ver mais um filme PB que a Adriana colocou na lista, me rendi e assisti “8 e 1/2”.  Por acaso, vi o filme logo depois do lançamento de “Nine” nos cinemas e acabei vendo os dois logo na mesma semana.

Sei que a Adriana não vai concordar mas eu preferi “Nine” à obra de Fellini. A combinação de um bom filme com musical é invencível para mim! Cantei do começo ao fim, tive ainda mais vontade de aprender italiano e é inegável o acerto na seleção dos atores. Talvez a forma mais leve de conduzir o filme através da música tenha feito as 2 horas passarem sem eu perceber, o que, definitivamente, não aconteceu com “8 e 1/2”.

Como não poderia deixar de ser, desliguei o DVD com a dúvida sobre o enigmático “asa nisi masa”. Alguém sabe o que significa?

Por: Nathalia Jordão

12
dez
09

8 e 1/2 | Como é estar preso

Quilômetros de engarrafamento. Dentro dos carros, pessoas conversam, um casal namora à revelia de tudo, pessoas observam indiferentes alguém que tenta desesperadamente sair de seu próprio carro. A câmera não permite saber de quem se trata, mas exprime sua sensação de sufoco. A pessoa soca as janelas, arranha os vidros e tenta chamar a atenção para seu aprisionamento. Finalmente, o personagem liberta-se do carro, sai flutuando pelos ares, porém é puxado para o chão por alguém que o segura por uma corda. Neste momento, acorda de seu sonho, atormentado. Trata-se do personagem principal de “Oito e 1/2” (1963), o cineasta Guido Anselmi, interpretado por Marcello Mastroianni. O filme, autobiográfico, gira em torno de um cineasta perturbardo por uma crise de inspiração para seu próximo filme. Fellini viveu a sensação em sua própria pele e, na minha opinião, a sequência inicial é a que melhor exprime esta angústia. O cineasta, à época, contou que, no dia em que comunicaria sua falta de inspiração aos produtores, foi convidado para comemorar o aniversário de um técnico da equipe. Chegando lá, foi surpreendido por uma festa em homenagem à “obra-prima” que estava criando. Diante do ocorrido, decidiu filmar sua própria angústia. As cenas sufocantes se repetem ao longo de todo o filme. Guido, sem respostas e acuado, é pressionado pelos atores, produtores. Como se não bastasse, ainda tem que administrar a amante e o casamento em crise. Memórias de infância também o atormentam. Tudo se passa numa estância hidromineral. Angústia pouca é bobagem.

Por: Adriana Barsotti

08
nov
09

Pulp Fiction | para ouvir e rever

Já tinha visto Pulp Fiction mas, como não me lembrava muito, incluímos na lista para rever. E é impressionante como a cada vez que revemos um filme, ele parece outro! Já estava com o post escrito só esperando o da Adriana e o que me chamou a atenção dessa vez foi exatamente  a trilha sonora maravilhosa e os diálogos. São essas marcas registradas do Tarantino que me fazem adorar os filmes dele: diálogos corridos e profundos, situações improváveis carregadas da violência mais desumana possível (meus olhos fecharam automaticamente em algumas cenas) e o roteiro sempre em torno da questão da traição e deslealdade.

Logo depois de rever “Pulp Fiction”, fui assistir “Inglorious Bastards”, mais uma obra prima do Tarantino e mal posso esperar pelo próximo…

Adoro também as histórias apresentadas de forma não cronológica, em que o espectador é forçado a voltar e fazer as conexões para montar as histórias na sua cabeça.

Destaque para a cena em que Mia Wallace e Vincent Vega dançam no Jack Rabbit Slim’s:

Destaque também para o melhor diálogo do filme, logo antes da cena da dança:

Mia: Don’t you hate that?
Vincent: What?
Mia: Uncomfortable silences. Why do we feel it’s necessary to yak about bullshit in order to be comfortable?
Vincent: I don’t know. That’s a good question.
Mia: That’s when you know you’ve found somebody special. When you can just shut the fuck up for a minute and comfortably enjoy the silence.

Logo depois de rever “Pulp Fiction”, fui assistir “Inglorious Bastards”, mais uma obra prima do Tarantino e mal posso esperar pelo próximo…

Por: Nathalia Jordão

28
out
09

Pulp Fiction | Para ser ouvido

“Pulp Fiction” continua sendo definitivamente meu preferido do Tarantino. Quis rever o filme antes de escrever o post, pois o que mais me chamara a atenção quando o assisti no cinema foram os diálogos. O que versa sobre as diferenças do Quarterão com queijo nos EUA e na França, onde é chamado de Royale Cheese, de tão trivial, ficou no meu ouvido. Os diálogos são descolados no filme. Descolados decool e descolados das imagens. Assim acontece quando Vicent (John Travolta) e Jules (Samuel L. Jackson) conversam sobre o Quarterão e sobre até que ponto uma massagem nos pés pode ser sensual e, em seguida, protagonizam uma das cenas brutais do filme. Antes de disparar a arma, porém, Jules recita um trecho da… Bíblia (!!!) Um diálogo inusitado também se segue quando o boxeador Butch (Bruce Willis), perseguido pelo traficante que traiu , encontra a namorada num motel. Em vez de discutirem a situação ameaçadora, os dois conversam sobre trivialidades. O mesmo se sucede com o casal assaltante no início do filme, quando, antes da cena do assalto propriamente dita, discutem as melhores formas de se praticar o crime com a banalidade de quem vai escolher uma sobremesa. A trivialidade, o deboche e a acidez com a cultura americana permeiam todo o filme. Um veterano da Guerra do Vietnã é escrachado ao revelar a Butch, ainda menino, que seu pai o encarregara de entregar-lhe o relógio que guardara por anos no… ânus (!!!). Heavy metal da melhor qualidade. Falando em música, a trilha sonora é espetacular. É mais um motivo para o filme ser ouvido.

Ah, já ia esquecendo de mencionar a homenagem que Tarantino faz a Godard. Aliás, não é à toa que sua produtora se chama Band a part, nome de um filme do cineasta francês de 1964 (na verdade, em francês, “Bande à part”). Não me lembro se já o assisti. O fato é que a cena em que Uma Thurman conversa com John Travolta num bar sobre a possibilidade de se sentir confortável depois de um minuto de silêncio a dois é uma referência ao filme francês, em que os três personagens principais se propõem a ficar um minuto sem trocar palavra. O curioso é que Godard declarou ser este um de seus piores filmes.

Por: Adriana Barsotti

27
out
09

Paris, Texas | Várias histórias

Paris,TexasAntes de ver o filme, a Adriana me falou que foi o preferido dela durante muito tempo. Como as opiniões costumam bater, a expectativa era grande e, a cada cena, eu ficava mais perto de concordar que “Paris, Texas” é maravilhoso.

O filme começa com toda a pinta de que a história seria sobre o passado de um homem que havia perdido a memória. A partir daí, o núcleo vai mudando diversas vezes e acho que é isso que faz com que o espectador fique as quase 2h30m fixado na tela.

“Paris, Texas” não é sobre a cidade Paris, no Texas, nem sobre o que aconteceu com Travis nos quatro anos em que ele desaparecera, tampouco sobre a volta dele para a casa do irmão. O filme também não é só sobre a relação do homem com seu filho – o qual ele não via há quatro anos -, nem sobre as aventuras dos dois durante a busca pela mãe do menino ou o desespero dos tios – pais adotivos de Hunter – quando viram a relação construída dele com seu pai biológico. E o filme também não é sobre o romance de Travis com a mãe de Hunter. “Paris, Texas” fala sobre relações e as histórias são conectadas e contadas de uma maneira deliciosa de acompanhar. Cada relação dentro da história do filme podia ser um outro filme.

E eu, que tenho uma dificuldade enorme de gostar de filmes emotivos, fiquei super tocada com “Paris, Texas”. Mais um ótimo filme do CLUBE!

Por: Nathalia Jordão

26
out
09

Paris, Texas | Alguns desertos

Durante anos, “Paris, Texas” (Wim Wenders, 1984) foi “o filme” para mim. Comprei todos os livros lançados na época sobre o road movie. Um deles tinha as imagens do filme decupadas, show! (por falar nisso, não sei por onde eles andam).

A sequência inicial é perfeita: a combinação das cenas desérticas do oeste americano com o vazio do personagem principal, Travis, que caminha sem ter para onde ir. Ele está de volta depois de anos sumido e seu irmão vai ao seu encontro quando recebe um telefonema de um hospital onde Travis fora atendido. Assolado pelo sol do deserto e pela falta de memória, Travis guarda apenas as memórias do corpo. É o que responde ao irmão quando ele pergunta-lhe se ainda sabe dirigir: “Meu corpo sabe”.

Travis tem um filho e uma ex-mulher, mas estas lembranças estão ainda esmaecidas e só aos poucos vão se revelando. No final do filme, outros “desertos” se revelam: as emoções mais intensas são esvaziadas pela falta de contato. É assim no banco drive-thru em Houston (como assim existe um lugar assim?), onde Jane (Nastassja Kinski) é observada pelo filho quando entra com seu carro para fazer um depósito. É através de um vidro e pelo telefone de uma cabine que Travis conversa com Jane, que trabalha como stripper. E é através de um gravador que Travis explica ao filho por que não poderá ficar com ele. Dilacerante.

“Paris, Texas” talvez não ocupe mais o lugar de “o filme”, mas isso pouco importa.

Por: Adriana Barsotti

Durante anos, “Paris, Texas” (Wim Wenders, 1984) foi “o filme” para mim. Comprei todos os livros lançados na época sobre o road movie. Um deles tinha as imagens do filme decupadas, show! (por falar nisso, não sei por onde eles andam). A sequência inicial é perfeita: a combinação das cenas desérticas do oeste americano com o vazio do personagem principal, Travis, que caminha sem ter para onde ir. Ele está de volta depois de anos sumido e seu irmão vai ao seu encontro quando recebe um telefonema de um hospital onde Travis fora atendido. Assolado pelo sol do deserto e pela falta de memória, Travis guarda apenas as memórias do corpo. É o que responde ao irmão quando ele pergunta-lhe se ainda sabe dirigir: “Meu corpo sabe”. Travis tem um filho e uma ex-mulher, mas estas lembranças estão ainda esmaecidas e só aos poucos vão se revelando. No final do filme, outros “desertos” se revelam: as emoções mais intensas são esvaziadas pela falta de contato. É assim no banco drive-thru em Houston (como assim existe um lugar assim?), onde Jane (Nastassja Kinski) é observada pelo filho quando entra com seu carro para fazer um depósito. É através de um vidro e pelo telefone de uma cabine que Travis conversa com Jane, que trabalha como stripper. E é através de um gravador que Travis explica ao filho por que não poderá ficar com ele. Dilacerante. “Paris, Texas” talvez não ocupe mais o lugar de “o filme”, mas isso pouco importa.
23
out
09

Contatos imadiatos do terceiro grau | Mais uma viagem do Spielberg

Acho que não estava num bom dia para assistir a nenhum filme mas a verdade é que “Contatos imediatos do terceiro grau” me decepcionou. Talvez pela expectativa que estava em assistí-lo com tanta gente falando bem ou simplesmente por ter me parecido mais um filme fantasioso do Steven Spielberg, que eu não gosto.

Todos os recursos e as soluções dele me parecem longe demais da realidade mas com a pretensão de ser algo totalmente possível.

E mais: aquele bebê do início do filme é igualzinho aos ETs, não foi a toa que ele foi atrás do Disco Voador.

Enfim… Acho que terei que rever o filme.

Por: Nathalia Jordão

17
out
09

Contatos imediatos do terceiro grau | ETs no drive-in

contatos“Contatos imediatos do terceiro grau” é o filme da minha infância e entrou na lista do Clube do Filme muito mais por motivos sentimentais. Por meses, acordei no meio da madrugada, despertando do sonho de que um disco voador pousava no meu quintal para vir me buscar, tal como acontece com o menininho do filme. Aqueles acordes musicais usados na comunicação com as naves espaciais também não saíam da minha cabeça. Assim como os brinquedos que começam a funcionar sozinhos no meio da madrugada no quarto do menino, energizados pela proximidade da nave espacial. Foi com muito prazer que aluguei há cerca de um mês o filme na locadora. E qual não foi a minha surpresa quando descobri que o François Truffaut atua como o chefe das investigações sobre os extraterrestres no longa de Spielberg? Naquela época, nem poderia supor de quem se tratava. Uma grata surpresa! Sempre tenho medo de rever filmes que me marcaram muito, mas foi delicioso assistir a este novamente. As cenas dos aviões e dos navios encontrados no meio do deserto são sensacionais. Contei a meu pai que alugara o filme e ele me relembrou de um detalhe apagado da minha memória: nós o assistimos no drive-in.

Bons tempos aqueles.

Por: Adriana Barsotti




Adriana Barsotti e Nathalia Jordão


O blog O Clube do Filme foi inspirado na experiência do livro do canadense David Gilmour. Crítico de cinema, ele propôs ao seu filho sair da escola e assistir a três filmes por semana. Neste espaço, Adriana é David e Nathalia, seu filho. Embora Adriana não seja crítica, nem ela e Nathalia sejam pai e filho, elas são amigas e apaixonadas por cinema. Portanto, estes posts serão movidos pela paixão e pela amizade, não pelo rigor da crítica.

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